Capítulo 1 - A feijoada

Parecia estar tudo finalmente resolvido. Os filhos educados, o marido carinhoso, os parentes respeitando a distância e a situação financeira não estava tão alarmante. Laura olhava para o mundo com ar de superioridade. Nada podia atingí-la.
É então que toca o telefone. Laura não queria atender, com medo que fosse mais uma amiga pedindo um favor (afinal, sua vida era tão perfeita...). Finalmente percebe que ninguém em casa esta disposto a responder ao chamado, então se rende:
- Alô?
- Por favor, a Laura.
- É ela... quem é? Arlete?!
Não foi uma surpresa, foi uma bomba! Arlete era uma amiga da adolescência tardia de Laura, que conheceu num sub-emprego, em Londres.
- Arlete, faz pelo menos 15 anos que não nos falamos!
- Pois é!Descobri teu telefone pela Lúcia. E aí?
- Sei lá, faz tanto tempo...
- A Lúcia disse que você se casou. Que absurdo! E nossas idéias de independência, autonomia, liberdade?
- As coisas mudam, amiga... Não vai me dizer que ainda não se casou!
- Claro que não! Mas queria te contar detalhadamente minhas aventuras. Estou indo pro Brasil na semana que vem, e queria te ver.
- Combinadíssimo, quando chegar, me liga, assim a gente conversa. Tô muito curiosa!
Assim como uma feijoada no meio do verão, apesar de saborosa, essa ligação não lhe caiu bem. Rever Arlete não estava nos planos dessa vida perfeita, pelo menos não agora...